17 de abr. de 2015

Editorial da Cultura de Classe nº 11 - Março/2015



Velha história
Mario Quintana


Era uma vez um homem que estava pescando, Maria. Até que apanhou um peixinho! Mas o peixinho era tão pequenininho e inocente e tinha um azulado tão indescritível nas escamas que o homem ficou com pena. E retirou cuidadosamente o anzol e pincelou com iodo a garganta do coitadinho. Depois guardou-o no bolso traseiro das calças, para que o animalzinho sarasse no quente. E desde então ficaram inseparáveis. Aonde o homem ia, o peixinho o acompanhava, a trote, que nem um cachorrinho. Pelas calçadas. Pelos elevadores. Pelos cafés. Como era tocante vê-los no "17"! - o homem, grave, de preto, com uma das mãos segurando a xícara de fumegante moca, com a outra lendo o jornal, com a outra fumando, com a outra cuidando do peixinho, enquanto este, silencioso e levemente melancólico, tomava laranjada por um canudinho especial...

Ora, um dia o homem e o peixinho passeavam à margem do rio, onde o segundo dos dois fora pescado. E eis que os olhos do primeiro se encheram de lágrimas. E disse o homem ao peixinho:

"Não, não me assiste o direito de te guardar comigo. Por que roubar-te por mais tempo ao carinho do teu pai, da tua mãe, dos teus irmãozinhos, da tua tia solteira? Não, não e não! Volta para o seio da tua família. E viva eu cá na terra sempre triste!...”

Dito isto, verteu copioso pranto e, desviando o rosto, atirou o peixinho n'água. E a água fez um redemoinho, que foi depois serenando, serenando... até que o peixinho morreu afogado...


Cultura de Classe

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Editorial da Cultura de Classe nº 10 - Fevereiro/2015

E o FAC esta de rosca

Mais de 300 projetos culturais aprovados no ano passado pelo Conselho de Cultura do DF aguardam o desenrolar do novelo deixado pelo governo Agnelo para receberem os pagamentos do Fundo de Apoio à Cultura e iniciarem os trabalhos.

A publicação dos primeiros editais “tá fazendo um ano. Foi no carnaval que passou”. Os contemplados parecem Pierrot esperando tão longamente pelo sonhado beijo que nem precisa ser o mesmo rosto encoberto pela máscara negra.

Na marchinha de Zé Kéti e Pereira Mattos, não sabemos como reage a amada. Mas, na real, o governo deve pagar o FAC já, pois seus recursos só podem ser aplicados em projetos da comunidade.


Cultura de Classe

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Editorial da Cultura de Classe nº 9 - Janeiro/2015

A urgência de um seminário de cultura


"Uma das condições essenciais da boa escrita está em não soar mal, em respeitar a eufonia da linguagem." 

Rui Barbosa

Agora, já definidos os principais gestores da cultura do DF, é imprescindível acertar alguns entendimentos sobre a forma de trabalho do novo governo e sua relação com os agentes culturais da cidade. O Fórum de Cultura, em 19 de janeiro, já resolveu que isso deve ser feito em um Seminário de Cultura do DF.

É importante frisar que esse seminário é coisa bem diferente das Conferências de Cultura, pois elas não tinham espaço para o debate de idéias nem teorias. Não serviram sequer para a exposição de planos de trabalho do governo. Só eram realizadas para cumprir exigências que o MinC coloca para fazer convênios com os estados e municípios. Além disso, em algumas conferências, as plenárias foram invadidas por massas de manobra de forças políticas que disputavam cargos de delegados do orçamento participativo e de conselheiros de cultura das satélites. Na Conferência do Cruzeiro (2011), isso foi inclusive documentando em filme, que foi amplamente divulgado e enviado à Secretaria de Cultura com solicitação de anulação. Mas o governo acobertou e credenciou os delegados até nesse caso em que o abuso era indisfarçável.

Os seminários de cultura devem ser espaço de discussão de ideias e busca de consenso. Não é o caso de esperar o governo se entrosar primeiro para depois abrir a discussão com a sociedade. Quando fazem isso, a tendência é criar um corporativismo interno que tenta manter os consensos iniciais para poder começar logo a execução dos planos. Isso dificulta a abertura às contribuições novas da comunidade. A Secretaria já tem o consenso inicial para fazer os trabalhos: é o programa do governo eleito, que, por sinal, foi feito com contribuições de muitos formadores de opinião da comunidade cultural. Então, é necessário debater agora a forma de realizar esse programa, ouvir as contribuições da comunidade para transformá-lo em planos de ação de cada área. 

É imprescindível também que tenham abertura para ouvir as críticas, pois nessa nossa área, sempre existem inúmeras formas de realizar uma tarefa e devemos adotar a que for mais enriquecedora para a sociedade, dentro das condições materiais que conseguirmos conquistar. Assim, colhendo contribuições de intelectuais do setor cultural, os planos de ação poderão ter melhor fundamentação teórica, e com as contribuições da comunidade cultural, estarão mais compatíveis com as práticas do povo.

Além desse seminário nosso, é importante que os novos gestores (e também nós todos que discutimos cultura) participem do seminário internacional de políticas culturais, da Fundação Casa de Rui Barbosa, que será realizado em maio próximo. Esse é especialmente importante para dar base teórica às práticas que virão. Nós da Cultura de Classe estamos nos preparando para ir e esperamos encontrá-los lá.

Cultura de Classe

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16 de abr. de 2014

Editorial da Cultura de Classe nº 8 - Abril/2014

Brasília 54 anos de exclusão


        Na II Bienal do Livro de Brasília, em 13/04/14, aconteceu um debate sobre Experiências populares de fruição literária. Os poetas convidados foram Sérgio Vaz, do Sarau da Cooperifa, de São Paulo; Isaac Mendes, do Movimento Supernova, de São Sebastião; e TT Catalão, da geração mimeógrafo de Brasília, que foi também presidente do Conselho de Cultura do DF.


     Os poetas falaram sobre a legitimidade das linguagens próprias de cada grupo para exprimir suas emoções. Mas o melhor discurso foi de uma moça do público, moradora de Ceilândia, que é professora em Águas Lindas - GO, a periferia da periferia de Brasília. Cidade onde não há sequer uma biblioteca.

      Sérgio Vaz já havia falado que o povo das quebradas, quando lê uma cena violenta num romance, escuta o estampido do tiro e sente o cheiro do sangue nas páginas. Isaac Mendes falou que a ponte sobre o Lago Paranoá não ajuda a atravessar o abismo social que existe entre São Sebastião e Brasília. E TT Catalão falou das roupas, da linguagem e outras formas usadas para distanciar ricos de pobres. Mas a professora de Águas Lindas foi mais fundo na indignação. Ao falar, respirava a aridez da quebrada onde vivem seus alunos. Falou também de sua dificuldade no curso de doutorado em história. Alguns livros de que necessita custam mais de R$ 300,00.

       Nada disso é por acaso ou exceção. A regra é manter cada classe em seu lugar. As exceções são justamente os pobres que chegam às universidades e mantêm sua indignação e sua opção de classe.

        Brasília é a cidade mais desigual do país e uma das piores do mundo nesse critério. Diante de tanto disparate, Adirley Queiroz fez um longa metragem para perguntar: A cidade é uma só? Foi vencedor do Festival de Tiradentes - MG. Merece ser exibido com destaque no aniversário de Brasília. Mas a cidade oficial não exibe porque é um filme da Ceilândia. Não só fisicamente, mas ideologicamente da Ceilândia, cidade para onde foram removidos os peões que não tinham onde morar. Mesmo depois de construírem uma cidade inteira.

          Por essas e outras, nesse aniversário de Brasília, nossa homenagem é uma negação da negação. Com
todo respeito aos bons poetas do centro, neste mês eles ficam excluídos desta revista para frisar que a periferia é permanente excluída da imagem de Brasília.

          E todas as frases de rodapé são de Sérgio Vaz, poeta da cooperativa da periferia de São Paulo.

Cultura de Classe

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17 de abr. de 2013

Aniversário de 53 anos de Brasília tem poesia sim, senhor!

A Cultura de Classe fará apresentação no aniversário de 53 anos de Brasília nesta quinta-feira, 18/04, na plataforma da Rodoviária do Plano Piloto. Não percam! A partir das 12h. Terão ainda outros grupos se apresentando. Confira a programação completa das comemorações: www.cultura.df.gov.br